quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Todo Mundo Quer Ser Obama (3)

Há alguns anos, partindo de um otimismo profundo, e até mesmo exacerbado, que habita em mim inexoravelmente, vivi momentos da história muito importantes para o meu país. Vi, ainda muito jovem, ser eleito, presidente do Brasil, um jovem de 39 anos que afirmava ser o nosso grande salvador. O ano era 1989. Não quero entrar aqui em questões de mérito, que me seriam tão desagradáveis quanto a qualquer um que confiasse todas as suas expectativas e responsabilidades ao síndico de seu prédio, ou condomínio, como se possível fosse tomar para si, ou entregar de si para outrem, as faculdades de se alimentar, trabalhar ou, mesmo, os mais íntimos e rudimentares atos de necessidades ou de prazer.

Pensar que cada passo que damos, cada ato, cada fato que se nos impõe, cada passagem de nossa vida é, no fundo de cada um, a manifestação última de esperança de que as coisas se resolvam por si, - sem que sejamos os atores principais, sem que tomemos parte diretamente na ação que a todo instante transforma e ao mesmo tempo mantém, a custa de nossa covardia e inatividade, as coisas como estão - me fez por vezes duvidar de minha própria sanidade.

Incoerentemente, e contraditoriamente, penso sempre em mim lembrando-me do que nos ensinou Leonardo Boff, em seu livro "A Águia e a Galinha", quando diz que ao mesmo tempo em que queremos voar, e voamos alto, estamos enraizados no chão. Somos a um só tempo águia e galinha. Desejamos que as coisas mudem, mas no fundo tememos pela mudança. Nossa vontade, inevitavelmente e determinantemente, é o moto-contínuo que nos faz ser, cada um de nós, quem somos, e ao mesmo tempo nos tornar aquele que continuamente nos tornamos.

Nenhum comentário: