sábado, 8 de novembro de 2008

"Eu Sou Um Fantasma das Águas" (Parte 2)


Pode ser que haja uma resposta para a pergunta formulada na postagem anterior. Não sei se há. Mais do que não saber, não creio.

É bastante difícil definir algo quando no fundo sabemos que apenas nos tornamos e nos transformamos continuamente. Nos impomos a nós mesmos, e ao mundo, em face de uma ilusão que nos define, contraditoriamente, como algo real e permanente.

Mas, ainda que de maneira não consciente, sabemos que somos, hoje, diferentes do que fomos e daquilo que a cada instante nos tornamos.

Creio, mesmo, que a melhor formulação que já encontrei para me definir, a mim mesmo, foi a definição auto imposta pelo escritor americano Norman MacLean na novela autobiográfica "A River Runs Through It", e que deu origem a um dos mais belos filmes já produzidos (em minha opinião o mais belo), perceptivelmente bem intitulado na língua portuguesa por "Nada É Para Sempre" quando diz ao final: "eu sou um fantasma das águas".

Essa é uma formulação maravilhosa, e aqui peço permissão a quem me lê, não só para adotá-la, mas para dizer, dela, qual é e qual tem sido minha interpretação: Sim, eu sou um fantasma... sou tênue, sou indefinido..., embora se possa definir; sou intocável..., embora se possa tocar; impenetrável..., embora se possa penetrar e, finalmente, sou das águas, sou do rio... sou o rio..., muitas vezes raso, outras vezes profundo... mas essencialmente um passante..., contraditório..., sem início e sem fim...

Se é que podemos nos definir, e dizer quem somos, eu adoto essa maravilhosa formulação e REPITO: eu sou um fantasma das águas!, pois não há lugar, não há tempo, não há forma que nos encaixe e possa nos dizer definitivamente.

Portanto, provável leitor, conhecido ou desconhecido, esse que, a partir de agora, se apresenta, se definirá como alguém que apenas escreve de passagem, e por razões infinitas. Razões entre as quais a constante necessidade se desvelar continuamente, descortinando diante de si um pouco do mundo que nos cerca, talvez por curiosidade, talvez por necessidade. Revelando, por outro lado, uns poucos detalhes e interpretações sobre si mesmo e de sua forma de olhar para tudo, para o todo, com os olhos voltados para a experiência interior, para o rio que passa por nós, para o rio que somos e por que nos transformamos eternamente.

Sem partida, sem chegada, apenas um passante, desvelante e ao mesmo tempo revelante. Como um rio que vela, desvela e revela continuamente.

Nenhum comentário: